Vivemos na chamada época da superexposição (na dita sociedade do espetáculo), e claro que a fotografia tem ganhado uma enorme relevância no mundo. Casos de pessoas que arriscam a própria vida para ter uma foto impactante do tipo “WOW”, com aquela luz e composição perfeitas tem virado uma constante (ainda mais com o retorno financeiro que tem trazido a influenciadores digitais).
Mas e aí? Será que é preciso de uma câmera de US$ 10.000,00 para ter sucesso profissional?
Inicio com uma resposta bem direta: NÃO. Cabe ressaltar que o conceito de câmera profissional não é tão comum no meio, cada pessoa tem uma visão própria do que seja. Mas numa perspectiva bem rasa, câmera profissional é a que é usada para fins profissionais, ou seja, que se utiliza para ganhar dinheiro. Analogamente poderia perguntar o que é uma furadeira profissional? Ou o que é um computador profissional? Ou quem sabe um tênis ou uma bicicleta?
A resposta, dessa forma, é que vai depender da capacidade/competência de quem usa de aproveitar ao máximo suas tecnologias/diferenciais. Não vou entrar em detalhes nos outros produtos citados, visto não ser algo que tenha tanto domínio para tecer comentários mais detalhados. Assim, o que é relevante para que um profissional de fotografia (aqui vou desconsiderar propositadamente os videomakers, visto que possuem demandas diversas aos que tenho na fotografia) poder desempenhar bem as suas atividades?
A base da fotografia é a luz! A quem não sabe, fotografia significa “escrita da luz”, e creio que todo mundo imagina o porquê, não é? Assim, em ambientes onde já são naturalmente bem iluminados, o trabalho do fotógrafo é bastante facilitado, restando assim a habilidade de tornar a foto diferenciada/desejada a quem vê. Dito isso, se o trabalho do fotógrafo se baseia em ambientes assim, bem como com o assunto não se mexendo muito (como alguns ensaios ou fotos de paisagens), com um bom smartphone já é possível fazer trabalhos primorosos (exemplos não faltam no Instagram de fotos sensacionais feitas com celulares ou mesmo câmeras bem de entradas).
Entretanto, caso a luz não seja tão controlada assim, e o assunto acabe se mexendo com frequência (como num casamento ou ensaios com crianças por exemplo), observa-se a necessidade de um corpo e lente com mais opções de ajustes (o termo câmera acaba limitando o conjunto, sendo que tanto o corpo da câmera como a lente tem características diversas, e que cada profissional precisa considerar quando vai adquirir cada uma delas de acordo com sua necessidade e condições de investimento).
A quem nunca ouviu falar do tripé da fotografia (que no caso seria do controle da luz) ISO, abertura do diafragma e velocidade do obturador indico dar um google ou ver alguns vídeos no YouTube. Mas um fotógrafo profissional não pode fechar contrato com um cliente sem ter total domínio de seu equipamento, correndo o risco de não conseguir entregar um resultado minimamente aceitável (e isso não se limita ao dito tripé, mas também o domínio de fotometria, composição, direção, ponto de foco e nitidez, equilíbrio de branco, profundidade de campo, lente clara x lente escura, assim como lente fixa x zoom dentre outros).
Imagine agora uma situação onde a luz é bem limitada e mesmo se utilizando da maior abertura do diafragma possível da lente, assim como com uma velocidade mínima que garanta que a foto não vai tremer, ai só resta o ajuste do ISO (que nada mais é que a sensibilidade do sensor da câmera à luz). ISOs mais altos em geral trazem ruído à imagem (leia-se falta de nitidez e imagem pixelada), a diferença é que corpos de câmeras com maior tecnologia abarcada suportam ISOs mais altos sem maiores problemas (por exemplo, uma câmera de entrada da Nikon D3100 suporta ISOs no máximo 800 sem perda de qualidade, já uma Full Frame como a D750 trabalha com ISOs acima de 6.000 tranquilamente). E não é só o ISO que câmeras diferem entre elas, também se deve considerar velocidade do obturador (como num ambiente de sol de meio dia onde se precise de uma velocidade muito alta, tipo 1/8000), automatismo embarcada na tecnologia, motor de foco e redução de tremido, quantidade de pontos de foco, tamanho e peso do corpo, assim como atalhos de botões e boa pegada são características a considerar antes de tomar a decisão de qual câmera comprar.
A diferença de preço entre tais corpos citados anteriormente é muito grande, acima de R$10.000 entre elas. A questão é: você de fato precisa de uma câmera com sensor FullFrame? Se sim, seu trabalho atual paga o bastante para tal investimento? E se não, você identifica que está deixando de pegar trabalhos por não ter tal equipamento? Cada profissional sabe onde o calo aperta, e ter equipamentos caros não significa fotos boas. Será que se está tirando o máximo que os atuais equipamentos são capazes de fornecer? Domínio pleno dos equipamentos de trabalho deve ser a primeira meta de um fotógrafo (entenda por domínio saber exatamente o que fazer em cada situação de luz e condição do ambiente – inclusive prever a limitação do equipamento e utilizar luz artificial como flashs, rebatedores/difusores, rádio flashes e bastão de LED), ao ponto de fazer ajustes rapidamente sem pensar muito onde está cada coisa (e isso só se consegue com muita prática e não apenas lendo manuais ou tutoriais na internet).
Mas alguém vai dizer: - Mas eu vi uns vídeos com alguns fotógrafos editando fotos completamente escuras e dando resultados sensacionais!
Isso também requer muito conhecimento do equipamento para saber o que se pode fazer na pós-produção. E reitero, mesmo em arquivos RAW (onde se tem maior capacidade de fazer ajustes) o tipo de câmera que captou a imagem faz muita diferença no resultado. E claro que conhecimento dos softwares de edição faz total diferença. Com raras exceções (como de fotógrafos que precisam entregar uma quantidade muito grande de imagens em curto espaço de tempo), a maior parte dos trabalhos na fotografia exigem edição de imagem na pós produção. Seja de limpeza da cena, seja de iluminação ou cor.
Claro que muita gente vê a fotografia como uma arte, e como tal aceita qualquer tipo de edição (inclusive as que de fato transformam completamente a imagem). Há espaço para todos, assim há quem curta e quem não curta. No fim, cabe a cada um aliar sua visão de mundo na fotografia com a busca de clientes que desejem seu trabalho. Quem vai dizer se seu trabalho é bom ou ruim são seus clientes que pagam pelo mesmo, todo o resto é opinião que quase sempre não agrega muita coisa ao seu crescimento profissional.
Como todo trabalho, busque sempre melhoria contínua (seja com habilidades técnicas ou agregando cultura com viagens e leituras que tragam maior bagagem a sua fotografia). Não perca de vista que fotografia é um negócio (e não só arte), assim precisa tomar decisões baseadas em lucro (e considerar todo tipo de investimento, custo e gasto numa perspectiva de retorno com um payback sendo o mais breve possível).
E aí, concorda ou discorda de algo que expus neste tema? Tem algo a acrescentar ou alguma dúvida que gostaria que eu tirasse? Pode deixar um comentário que será um prazer lhe responder.